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Sabática

2021

Um achado esquecido até pouco tempo atras, quando revisitando alguns arquivos me deparei com esse período da vida transcrito em alguns poemas. 

O que eu procuro
tem nome sim
tem inclusive o meu nome
e sobrenome
tem endereço que eu sei de cor
tem um guarda-roupa que eu as vezes me canso
tem manias que as vezes não percebo

o que eu procuro
tem sabor de velha infância
misturado com desconhecido
que se vira pra frente enquanto torce pra trás

e o que eu procuro
eu sei que tenho
e talvez só por isso
eu continue procurando

Eu
que perco a noção do tempo
procuro um alento
pra algumas angústias

me coloco pra cima
pra baixo
e tento não me colocar de lado

vejo no tempo sobrando
um tempo perdido
onde estou ganhando
tempo

como diria Caetano
na sua oração ao tempo
um senhor tão bonito
nada infinito
que deixo aqui escrito

ganho e apanho do tempo
pra lembrar de novo da ilusão desse controle,
expectativa,
de não perder nunca
o que tenho na mão

Cresci demais naquela noite

não lembro o dia

o teu corte rasgou em mim
mais do que eu sabia que sentia

e eu jurei, sem saber que jurava
nunca mais
me sentir tão fraca

Eu nunca fui da calmaria
mas hoje a constante agitação
também me entedia

vivo oscilando entre leste e oeste
e me pergunto, às vezes
será que um dia?

será que um desfecho, um começo
um passo ou um tropeço
vão mesmo me levar
para o que eu queria?

penso, ao mero acaso
que penso demais
e faço muito caso
do que pouco importa
e de quem pouco se faz à porta

inventei pra mim umas desculpas
e tento agora me desculpar
comigo mesma
por insistir
em começar
sempre pelos fins.

Me senti sozinha

pensei nos que amava
e me alegrei

olhei pros lados
não vi ninguém

Me sinto em casa em outros locais
e me vejo longe mesmo perto

crio aqui umas ideias
que logo caem por terra
para,
ainda bem,
me lembrar que não era

não era hoje
nem agora
e vou supor
que nem amanhã também

me dou um tempo
me acalento
e uso desse espaço para partir, se quiser

puxo o medo pra mais perto
e no calor desse deserto
tiro do chão aquela ideia
de deixar o medo me levar

Me perco facilmente
nas histórias inventadas
minha alma de peixes voa fácil
entre os mundos que faço meus

© 2021 por Marina D. Soncini.

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