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Sobre despedidas (quase) concretas

  • Foto do escritor: Marina Soncini
    Marina Soncini
  • 14 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 16 de set. de 2024

Não gosto de despedidas. Conheço poucas pessoas que gostam (acho que nenhuma, na verdade). Algumas apenas toleram, outras tiram com mais tranquilidade. Outras ainda preferem fingir que nada é nada e evitam dizer alguns tchaus mais concretos. De modos e estratégias, o que mexe de verdade é saber que ela é sempre inevitável. Se despedir, objetiva ou simbolicamente, sempre será necessário. 


Nos últimos meses, eu passei por diversos finais: planejados, inesperados e/ou só extremamente necessários. E mais do que não gostar, eu percebi que literalmente eu não sei como me despedir. Das vivências de finais abruptos, onde a despedida não chega nem a ser uma opção, esses momentos recentes me fizeram pensar no porquê de eu sempre preferir desaparecer do que propor um desfecho. E agora acho que é porque não via sentido em oficializar um final já acabado de qualquer jeito.  


A morte, pra mim, ficou marcada como o caminho do adeus. E não é que eu esteja matando literalmente a tudo e todos que passam pelo meu caminho (pfvr). Mais bem, é sobre perceber que, numa linha de chegada, não saber por onde ir pelo último abraço me fazia acreditar que ele não era necessário. Porque despedir exige sempre algo que não sabemos se temos. Porque o depois ainda é mistério. 


E eu acho que é justamente a mudança que assusta. E as perdas que vêm com essa mudança. Talvez, também, evitar um adeus seja só uma tentativa de se proteger da tristeza dessas perdas. Mas uma tentativa em vão. Porque, com ou sem último beijo, no dia seguinte não vai ter mensagem de bom dia. E o que era antes já se transformou, pra bem ou pra mal. As mudanças já entraram em curso. 


No mesmo sentido, às vezes a gente posterga uma despedida. Tenta fazer com que o adeus se dilua no tempo, que vire esquecimento. Prolonga um quase nada no presente porque ele ainda parece ser melhor do que colocar o tudo no passado. Mas cá entre nós, a maioria dos nossos medos, até esse ponto, são inventados. E essa realidade inacabada também. O que se estica é a conclusão, e não os momentos ou pessoas que a gente ainda quer tentar manter. 


Mas talvez até seja interessante se desprender aos poucos. Aproveitar os últimos desfrutes como forma de finalizar alguma fase mais em paz. Minha analista me disse: “você investiu muito tempo nisso, tudo bem levar um tempo para desinvestir”. E eu tentei (e estou tentando) me permitir me despedir e transformar as coisas com calma, sem mortes. Mas sem esquecer que o espaço que uma partida ocupa não pode ficar ocupado por muito tempo. 


Talvez escolher dizer adeus possa me trazer um novo vislumbre do caminho pro último abraço. E esse caminho pode me levar, justamente, ao primeiro abraço seguinte. Seja seu ou de outres. Tentar ficar em vez de sumir, inclusive nas despedidas, e assim abrir horizontes pra permanências menos imaginárias. Aprender que talvez se despedir não tenha nenhum objetivo além do rito simbólico, e que ele por si só já é suficientemente necessário. E eu preciso parar de escrever tantos “talvez”s.




 
 
 

1 Comment


Marco Antônio
Dec 06, 2024

Se não agora, depois não importa.

Por você:

Posso esperar!

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